sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Novo Código Florestal - Ameaça à Conservação

Rio Piraí, Joinville/SC
Olhe bem para a paisagem na foto ao lado. A paisagem na foto está sob risco de desaparecer. Está em discussão na Câmara dos Deputados a alteração do Código Florestal. A modificação é proposta pelo então Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB).
No seu parecer, de mais de 260 páginas, o relator demonstra toda sua burocracia típica do Stalinismo, de onde surgiu seu partido. Por outro lado, citações interessantes como a de John Foster em A Ecologia de Marx, onde se explica a lógica de destruição da natureza através do desenvolvimento do capitalismo. 
Porém, toda teoria se perde observando os fatos: como alguém que diz entender que a destruição da natureza se dá por uma lógica capitalista, se apóia em uma lei que aumenta essa destruição para atender essa mesma lógica? Equivoco? Duvido!
Tudo estava orquestrado mesmo antes da candidatura de Dilma para a presidência. O PMDB, partido tradicionalmente ruralista, já sabia muito bem o que queria quando apoiaram a candidatura, agora eles cobram a fatura de suas almas. Aliás, como já foi dito em um post anterior.
Se Aldo Rebelo, que se diz um comunista, quer eqüidade para o setor agropecuário e que o pequeno produtor tenha mais oportunidades, por que não lutar contra os latifúndios, terras de grileiros e grandes áreas na mão de políticos influentes? 
Os novos limites mínimos para as Áreas de Preservação Permanente (APP) passariam de 30 metros nas margens dos rios para 15 metros se este projeto de lei for aprovado. Mesmo com todos os discursos de redução de emissões de CO², é uma coisa óbvia que a diminuição de APP´s vai interferir na concentração de carbono no ar, porque terão menos árvores para absorver esse carbono. E o governo, que é mestre em fazer de conta, lança metas de redução de CO² para o mundo aplaudir. Talvez seja mais uma lei que não pegue, né Srº Presidente?
Todos os anos que trabalhei com Educação Ambiental, como professor ou não, fizemos questão de falar sobre as Matas Ciliares, inclusive com a Escola Municipal Bernardo Tank recuperamos um área de Mata Ciliar com os alunos. Imagino como se sentirão eles quando souberem que o que eles fizeram pode não valer de nada.
Alunos da Escola Bernardo Tank
em atividade de plantio na Mata Ciliar
A verdade é que os que cobram a fatura pós eleições já se organizaram e talvez a matéria proposta seja votada na semana que vem. Cabe agora a nós, impedir que se faça a vontade dos poderosos do agro-negócio. Se há algo que precisa ser mudado, que seja antes discutido de forma ampla e que todos os setores participem.

Abaixo estão alguns emails de Deputados Federais, mande seu recado e ajude a impedir a destruição do que restou de nossas florestas:

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

2ª Conferência Municipal do Meio Ambiente - Análise

Grupo Fauna e Flora
Nos dias 26 e 27 de novembro, a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Joinville (FUNDEMA) promoveu a 2ª Conferência Municipal do Meio Ambiente, que ainda possibilitou a participação paralela das crianças através da Conferência Mirim.
Os objetivos da Conferência eram de elaborar propostas para três eixos temáticos: consumo consciente, preservação e conservação da fauna e flora e a gestão e manutenção de recursos hídricos. Para as crianças a Conferência tem um papel educacional e de incentivar a participação social nas decisão que afetam o coletivo. Sendo este um dos grandes desafios, pois atualmente a participação social dos adultos é deficiente. É necessário preparar as futuras gerações para a participação nos processos de decisões. Para isso, convidei os alunos Douglas e Murilo da Escola Municipal Karin Barkemeyer, onde sou professor.
A Conferência dos "adultos" iniciou com a palestra "Biodiversidade é a nossa vida", já que o grande mote das discussões mundiais este ano deveriam ser sobre este tema.
No segundo dia de evento ocorreu as oficinas de trabalho divididas em grupos conforme o eixo temático de sua preferência. As discussões foram satisfatórias, levando em conta o pouco tempo e uma certa falta de objetividade em alguns casos, vou explicar, as questões norteadoras perguntavam: o que precisa ser feito no município e o que precisava ser feito no seu bairro, porém não tínhamos representantes de cada bairro. Uma sugestão seria promover um evento nos moldes das conferências de bacias hidrográficas, tendo uma última central reunindo representantes de todas as bacias hidrográficas de Joinville.
As propostas redigidas ao final do evento por cada grupo de trabalho foram discutidas com todos os participantes, sendo modificado ou incluído algum item quando se julgou necessário e aprovado pelo coletivo.  Agora é preciso cobrar para que essas propostas sejam efetivadas. Já participei de vários eventos, de onde saíram propostas importantes, aprovadas pelo coletivo, mas que caíram no "esquecimento" dando a impressão que o evento era apenas propaganda. Espero que desta vez seja pra valer.
Ao final os alunos da Escola Municipal Zulma do Rosário Miranda apresentaram um vídeo sobre suas experiências com a Educação Ambiental. Com a participação dos alunos, fiquei com uma certa esperança de que essa próxima geração tem muito mais ferramentas para fazer mais do que nós fizemos e tive orgulho pelos meus alunos, os outros que, não eram meus, mas mostraram que estão dispostos a fazer diferente e por ter dado minha modesta contribuição para isso.
Conferência Mirim.
De frente Douglas e Murilo
da Escola Karin Barkemeyer

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ambientalismo e luta de classes

   Este seria um bom título de um livro que, um dia quem sabe, vou escrever. Assim como todas as outras lutas políticas que moveram modificações sociais, o ambientalismo é a causa do momento. No passado, a luta contra a escravidão ou a opressão de reis e senhores trouxe novas ordens mundiais de uma forma dinâmica e revolucionária. Mas a essência das contradições não mudaram, a luta entre aqueles que oprimem e os que são oprimidos continua até nos dias de hoje, e há aqueles que observam esse fenômeno como o grande motor da história.
   Mas o que o ambientalismo tem a ver com isso? Bem, todas as contradições entre os que dominam e os que são dominados nos trouxeram até aqui, uma sociedade que permite a destruição de milhões de hectares de floresta na Amazônia ou Mata Atlântica para o lucro de poucos, uma sociedade que permite que centenas de pessoas sejam jogadas à miséria, sem ferramentas para construir sua própria libertação e acabam ocupando locais inadequados nas periferias, entre inúmeras outras facetas.
  Todos falam que a educação é a chave para modificar tais coisas, mas esquecem que o modelo de educação é ditado pelo próprio modelo sócio-econômico que vivemos. Ou seja, nosso modelo de educação ainda nos faz fechar os olhos a essas coisas e buscar o sucesso individual.
   Talvez seja por isso que muitos generalizam os problemas ambientais como algo apenas de mudança de comportamento como não jogar papel no chão, separar o lixo, não gastar água, etc. É lógico que essas coisas são importantes para uma sociedade sustentável, mas no meu entendimento é pouco. Apenas essas atitudes não vão parar a construção de um usina hidrelétrica como a de Belo Monte no Pará, que irá destruir uma das regiões mais importantes em termos de biodiversidade e para atender uma minoria, tendo épocas onde o funcionamento será paralisado pela seca periódica desta região. Aliás, seca que bateu record esse ano, talvez seja mais um aviso da natureza. Assim como em novembro de 2008, os nossos representantes montavam o teatro para a discussão do novo código florestal para o Estado. Estavam na última semana de discussão e Santa Catarina sofreu uma de suas piores enchentes da história.
   Agora a discussão de alterações no código floresta chegou a nível nacional e já vemos os ruralistas jogando pelo poder na Câmara. Dizem estar dispostos a negociar este posto se for apressada as modificações que lhe são interessantes. Não pensem que essa bancada de parlamentares ruralistas são ex-colonos ou agricultores familiares que querem lutar pelos seus iguais. Eles representam os grandes senhores do agro-negócio, que muitas vezes são estrangeiros.
  Nosso sistema é mestre em se transformar ou se envolver em um papel de presentes novo. Porém, sua essência não muda. A educação que não gera consciência sobre essa realidade e cria condições de luta, não transforma nada. A mídia cria novos rótulos para novos produtos com a marca "ecológico" e o "cidadão" acredita cegamente que está salvando o planeta, mal sabe ele que apenas contribui para a continuação do sistema.
   As perspectivas futuras em um sistema como o nosso são péssimas, apesar de se tentar desesperadamente manter o mesmo modelo dando outros nomes para as mesmas coisas, como economia verde, produtos ecológicos, selos de todos os tipos, a base continua a mesma: a exploração da natureza e do ser humano para o lucro individual.
  Acredito em desenvolvimento sustentável, mas não em um sistema capitalista. Talvez esteja no ambientalismo mais uma chance de mudanças profundas em nossa sociedade. Pois o sistema atual se mostra ineficiente no que se refere a justiça social e a preservação da natureza. Aliás, já dizia Marx,"o sistema capitalista trará a barbárie humana e a destruição da natureza". Se pelo menos tivessem ouvido o velhinho.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Animais silvestres apreendidos : qual a melhor solução?

Geochelone carbonaria
     Há algumas semanas atrás, um aluno meu encontrou um jabuti perambulando perto de sua casa. Depois de muita conversa, o aluno me entregou o bichinho, com o casco já meio comido pelos cães. Levei-o para casa, até para avaliar o estado de saúde do jabuti, um macho, que estava fraco, talvez não se alimentava há alguns dias.
    O jabuti (Geochelone carbonaria) é um réptil quelônio (ordem das tartarugas, cágados e jabutis) que é originalmente do Cerrado brasileiro, tendo sua distribuição em parte do norte, nordeste e centro-oeste do país.
   Minha intenção era de entregá-lo a Polícia Ambiental, mas durante o tempo de recuperação do jabuti, tive uma idéia: levá-lo ao CETAS/IBAMA em Florianópolis, até para conhecer o lugar. Pesquisando sobre o assunto, descobri que o CETAS/IBAMA na Bahia faz a soltura de centenas desses animais na natureza, já que esses animais não perdem muito de seus instintos selvagens. CETAS é a sigla para Centro de Triagem de Animais Silvestres e é gerenciado pelo IBAMA, tem a finalidade de receber animais silvestres que, por ventura, forem encontrados feridos ou em cativeiro de forma ilegal. Depois de recebido, o animal recebe os cuidados necessários para restabelecer a saúde e finalmente ganhar a liberdade ou ser encaminhado para um zoológico, por exemplo.
O CETAS em Florianópolis fica na entrada do Parque Florestal do Rio Vermelho, na Barra da Lagoa. Chegando lá, em dia de emenda de feriado, encontrei apenas um policial ambiental cuidando dos animais. Pude perceber que a estrutura para um Centro como aquele deixava a desejar. 
CETAS/IBAMA - Florianópolis
   Esse centro em Florianópolis é o único do Estado, ou seja, tem que atender a demanda de toda Santa Catarina. Em uma palavra: é uma vergonha! Mas infelizmente não é nenhuma novidade para o nosso Estado, a pior política em matéria de conservação ambiental. Daqui saíram coisas absurdas como a mudança do código florestal que altera as APP's para apenas 5 metros em rios menores que 30 metros de largura. Então é de se entender porque não se investe em ampliar os CETAS para outras regiões, porque não aumentam os efetivos da Polícia Ambienal onde o Pelotão de Joinville tem que cobrir todo norte de Santa Catarina.
   Pensava nestas coisas enquanto estava para entregar meu novo amigo ao polícial do CETAS. E para cúmulo, quando lhe perguntei sobre o possível encaminhamento do animal para seu habitat de origem, ele me disse que nunca soube ou viu alguma vez que um bicho daqueles havia sido solto. Seu destino é ficar no CETAS ou então ir para algum zoológico. Fiquei indignado, porque pra mim era como se eu tivesse prometido para ele (o jabuti) que ele voltaria para o lugar dele, mas infelizmente não foi o que aconteceu.
Hoje, quando o aluno me perguntou sobre o jabuti, eu disse que agora ele estava no lugar correto. Por dentro eu sabia que não era bem assim, mas não posso desencorajar que tomem essa atitude, pois pelo menos lá existem pessoas especializadas cuidando dele. Além do mais, o responsável legal pelos animais silvestres apreendidos é o IBAMA, qualquer pessoa que aprisionar, caçar, comercializar ou até perseguir animais silvestres pode pegar de 6 meses a 1 ano de prisão.
O que podemos fazer, falando como biólogo, é trabalhar para que os CETAS tenham programas mais eficientes de reabilitação de animais silvestres para a devolução à natureza. Esse sim é o melhor lugar para eles.





A gravação é do jabuti ainda lá em casa no último dia que passou lá antes de ser levado ao CETAS. Vou ligar para lá periodicamente para ver como está se saindo.

sábado, 11 de setembro de 2010

II Curso de Primatologia na Semana do Biólogo da UNIVILLE

   Nos dias 2 e 3 de setembro o Projeto Primatas do Nordeste Catarinense (PNC) promoveu o mini-curso "Métodos de Estudo de Campo com Primatas". O mini-curso foi realizado pela segunda vez na Semana do Biólogo da UNIVILLE, contando com três profissionais do PNC, o coordenador do projeto profº Sidnei da Silva Dornelles, a bióloga Andressa Lopes Roveda que pesquisa a dispersão de sementes pelo bugio-ruivo e o biólogo Guilherme Evaristo pesquisador voluntário (técnico de campo do PNC entre 2007 e 2009).
Foto: Rodrigo Galdino
   No primeiro dia, foi apresentada a teoria dos métodos utilizados no estudo de primatas. Porém, vale ressaltar que boa parte destes métodos podem ser aplicados a outros grupos da fauna. Em campo, os futuros biólogos puderam aplicar métodos para estudo de comportamento e levantamento da densidade populacional.
   O local da aula prática foi no Distrito Industrial Norte de Joinville, onde ainda existem grupos de bugio-ruivo (Alouatta clamitans) em fragmentos florestais, alguns em avançado estágio de regeneração.    
   Na prática os alunos puderam perceber a situação delicada em que se encontram esses primatas, isolados em fragmentos, sem poder dispersar e sofrendo os efeitos da redução do habitat.
Foto: Rodrigo Galdino
   A fragmentação dos habitats hoje é uma das principais preocupações para a conservação das espécies, esse isolamento dificulta o fluxo gênico, ou seja, diminui a variabilidade genética e aumenta as chances de problemas genéticos, podendo levar a extinção local da espécie. 
   Um dos objetivos do mini-curso é despertar nos graduandos o interesse pelo estudo de primatas. Os fragmentos do Distrito Industrial podem servir como laboratórios para pesquisa de campo para entender como a fragmentação atinge certos grupos da fauna.


Foto: Rodrigo Galdino
 Informações como estas podem dar subsídios para a criação de planos e ações que promovam a conservação da biodiversidade nestas regiões.
  

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Serra Dona Francisca - refúgio da biodiversidade

Serra Dona Francisca
Alguns estudos indicam que em Santa Catarina restam 15% de Mata Atlântica. Sendo que nosso estado era coberto integralmente por este Bioma. A Serra Dona Francisca, no norte catarinense, é um dos principais remanescentes do sul do país com florestas contínuas, raras nos dias de hoje. 
Por apresentar estas características e principalmente por abrigar as nascentes dos principais mananciais de Joinville, um trecho da Serra Dona Francisca foi transformado em Área de Proteção Ambiental (APA), através de decreto municipal nº 8.055 de 1997. Nesta Unidade de Conservação ainda é possível encontrar representantes da mastofauna como a anta (Tapyrus terrestris), onça-parda (Puma concolor), queixada (Tayassu pecari), etc. Aves ameaçadas de extinção como a jacutinga (Pipile jacutinga) e o papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis) já foram relatados em entrevistas com moradores da região. Porém, uma das mais famosas espécies da nossa fauna a onça-pintada (Panthera onca) não é relatada desde a década de 70, onde a última que se tem registro foi morta em 1975 na região do alto Cubatão. 
Um dos afluentes
do Rio Piraí
A simples criação de uma Unidade de Conservação (UC) não garante que de fato a biodiversidade seja conservada. Hoje, com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), toda UC deve apresentar um plano de manejo antes de sua implantação. A APA Serra Dona Francisca, criada em 97, agora começa a desenvolver seu plano de manejo, que vai determinar o quê pode ser feito na UC e como  planeja-se trabalhar para a efetiva conservação da APA. Mas, enfim, antes tarde do que nunca. Os modelos de UC no Brasil ainda sofrem do mal de só existirem no papel, enquanto a biodiversidade desses remanescente se esvaem como areia entre os dedos.
Pegadas de anta próximo à SC 301
É preciso que a sociedade se aproprie desta realidade, conheça as riquezas naturais das Unidades de Conservação e cobre a real conservação destes patrimônios.  

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ararajubas na Vila Nova

Aratinga guarouba
A cerca de alguns dias atrás, fomos surpreendidos pelo aparecimento de um grupo de uma das mais belas aves  do Brasil, que aliás já simbolizou o nosso país - a Ararajuba (Aratinga guarouba).
Na verdade não era uma total surpresa para mim, pois lembro-me que quando estava no ensino médio (faz tempo) vi um grupo de 11 ararajubas voando sobre a escola onde eu estudava. Mesmo ainda sem ter conhecimento sobre o assunto, fiquei admirado e curioso para saber que espécie era aquela, diferente de tudo que já tinha visto, talvez era meu extinto de biólogo já se manifestando. Foi então que, naquela mesma época eu e meu irmão fomos atrás delas e encontramos. Mas aí o tempo passou e eu esqueci das ararajubas. 
No primeiro ano de faculdade, quando estávamos procurando um tema para desenvolver um projeto de pesquisa para a matéria de metodologia, eu já tinha os primatas como tema e sugeri a um amigo que não sabia com que trabalhar que procurássemos as ararajubas da Vila Nova e talvez seria um bom projetinho de PIBIC. Então começaram as descobertas: a ararajuba não é nativa da Mata Atlântica e sim da Amazônia, em uma pequena área de ocorrência. Mas como ela teria chegado até aqui?
Rhea americana
Na região rural do bairro Vila Nova, mais especificamente na Estrada Comprida, uma pequena propriedade rural chama a atenção pela presença de duas emas (Rhea americana) e vários outros pássaros silvestres. Todos estão soltos. Descobrimos que o ponto principal de parada das ararajubas era nesta propriedade, a qual decidimos "invadir" no bom sentido para saber mais sobre elas. Depois de termos levado um corridão das emas conseguimos falar com a proprietária do sítio, muito simpática aliás, pronta para falar sobre o assunto com o brilho nos olhos enquanto explicava sobre as suas aves preferidas, as ararajubas.
Seu marido, já falecido, recebia algumas aves apreendidas pela Polícia Ambiental e ele, com muita paciência, tratava das aves e depois às deixava soltas para se sentirem melhor. A maioria das aves nunca saíram da propriedade, já as ararajubas seguiram seus instintos. Dois casais trazidos inicialmente, aprenderam a se alimentar do açaí da palmeira-juçara (Euterpe edulis), lembrando que em sua área de ocorrência original sua alimentação inclui o açaí do norte (Euterpe oleracea). Também começaram a se reproduzir livremente, nidificando da mesma forma como se fossem selvagens.
Com essa experiência podemos ver que é possível sim recuperar animais, mesmo os que nasceram em cativeiro. O proprietário do sítio sem conhecimento nenhum (acadêmico) conseguiu provar isso. Porém, é um processo que demanda tempo.
Ocorrência original da Ararajuba
Sabemos sobre toda a questão de que trata-se de uma espécie exótica introduzida, mas são necessários estudos para saber se ela interfere de forma negativa no ecossistema. De qualquer forma, a crueldade contra esses animais, assim como com todos os outros, não é diferente. Pessoas com a intenção de "ver de perto" atiram contra as ararajubas matando várias com um só tiro. Foi relatado que só um morador da região matou três com um único tiro. Outras morreram por ter nidificado em um coqueiro jerivá (Syagrus romanzoffiana) e um raio o atingiu. Ou seja, a uns três anos atrás sobraram apenas três ararajubas. Mas pelo encontro de agora, o numero aumentou novamente.
Fica aí a dica para os biólogos de plantão que queiram saber mais sobre esse caso interessante de adaptação de uma espécie rara da fauna brasileira. 






FRISCH, J. D ; FRISCH. Aves brasileiras e plantas que as
atraem. 3 ed. São Paulo: Dalgas Ecoltec – Ecologia Técnica Ltda,
2005.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Plantas nativas vs exóticas

  Estudos de Biologia da Conservação consideram a introdução de espécies exóticas como a segunda maior causa de extinção da diversidade biológica mundial. Ficando atrás apenas da destruição dos habitats. O problema ocorre quando animais, plantas e microorganismos de um determinado lugar são levados para outro onde não há predadores para limitar sua população ou então, como no caso de algumas plantas, alteram os ciclos da cadeia alimentar, polinização, etc.
P. nuda, nativa da Mata Atlântica
  Este ano, a Escola Municipal Profª Karin Barkemeyer desenvolve o projeto "Comunidade Educativa: do sonho a prática, por um planeta sustentável", tendo como objetivo principal  demonstrar que é possível manter a flora nativa da região no ambiente urbano, preservando a biodiversidade e promovendo a sustentabilidade. 
  Essa preocupação com o ambiente urbano levando em conta a biodiversidade local é um tanto quanto recente. Imagine que programas de arborização urbana mal saíram do papel e menos ainda incluem a utilização de plantas nativas de cada região. Muito disso, fora a falta de vontade, deve-se a falta de pesquisas de plantas nativas próprias para uso urbano. Lembrando que quando pensa-se em nativa está se referindo aquela determinada região. Por exemplo, o tão famoso pau-brasil ( Caesalpinea echinata) é nativo do Brasil, mas não do sul do país.
T. glaucopis
  A FUNDEMA (Fundação do Meio Ambiente de Joinville) lançou em 2008 a Portaria nº 007/08 que dispõe sobre as espécies nativas brasileiras próprias para uso em arborização urbana, o que já é um avanço. Porém, se pesquisarmos na imensa área de Mata Atlântica que ainda temos preservada em Joinville podemos encontrar muitas mais.
Euglossa sp
 Um exemplo de planta nativa de Joinville própria para o uso urbano é a Psychotria nuda (cravo-de-negro) que tem como principais polinizadores as abelhas nativas do gênero Euglossa e o beija-flor-de-fronte-azul (Thalurania glaucopis). Espécies que estão desaparecendo da área urbana por serem dependentes desta planta. A P. nuda ainda atrai a fauna com seus frutos sendo uma das plantas mais procuradas no sub-bosque da floresta. Entre os que apresentam preferência pelos seus frutos são o araçari-poca (Selenidera maculirostris), um parente do tucano e a juruva (Baryphthengus ruficapillus).
S. maculirostris
  Com uma simples ação de plantar uma árvore nativa estamos contribuindo para que estas e muitas outras espécies não desapareçam. Vivemos em um país com a maior biodiversidade do mundo, não faz sentido trocar essa riqueza pelo cinza das cidades.
B. ruficapillus

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Qualidade do ar no bairro Vila Nova

No bimestre passado, um trabalho realizado nas escolas municipais Karin Barkemeyer e Valentim João da Rocha, analisaram a qualidade do ar nas proximidades destas escolas. Para isso, foi utilizado os liquens como bioindicadores de poluição atmosférica. Os liquens são dois seres em um só, uma relação de mutualismo entre fungos e algas unicelulares, sendo muito sensíveis a poluição, principalmente de combustíveis fósseis.
A idéia era calcular a densidade de liquens por cm². Para isso, utilizou-se uma amostragem em quadrats de 20x20 cm. Os alunos registraram as informações sempre no lado sul das árvores e a 1,30 m do solo.
Os resultados até o momento demonstram uma grande concentração da poluição nas proximidades da Escola Valentim João da Rocha, a análise dos alunos demonstrou uma densidade de 0,040 liquens/cm². Na Escola Karin Barkemeyer a densidade foi de 0,103 liquens/cm².
A densidade maior na Karin ainda não pode ser concluída como área livre de poluição, mas apenas é um pouco menos poluída que nas proximidades da Valentim João da Rocha. A conclusão dos alunos foi de que o fluxo de veículos na rua XV de Novembro e o terminal de ônibus são as principais fontes poluentes do bairro.
Uma das formas para diminuir a poluição nestes locais seria a arborização nos pontos com maior índice de poluição. Mas ainda é necessário aumentar as coletas de informações em outras áreas do bairro, sendo esta uma das atividades previstas para o Clube Cotidiano Ambiental na Escola Karin Barkemeyer.

Projeto Primatas do Nordeste Catarinense

O Projeto Primatas, como é mais conhecido, iniciou em 2002 como Projeto Primatas do Saí, região entre Itapoá e a Vila da Glória. Sua ampliação levou a pesquisa de primatas para Joinville, Campo Alegre, São Francisco do Sul e Itapoá.
O objetivo do Projeto Primatas é buscar informações sobre a diversidade, distribuição e a ecologia dos primatas que habitam nossa região. Os estudos com primatas foram os grandes impulsionadores da Biologia da Conservação no Brasil e no mundo. Quem nunca ouviu falar no mico-leão-dourado ou nos gorilas da montanha do Congo, onde Dian Fossey lutou e deu sua vida para a conservação destes primatas.
Atualmente, as pesquisas concentram-se na Zona Industrial Norte de Joinville, onde existem grupos da espécie Alouatta clamitans, o bugio-ruivo. A situação destes primatas é preocupante, já que estão isolados em fragmentos do que um dia foi a Mata Atlântica de terras baixas em Joinville. Nestas condições o bugio-ruivo corre risco de estar extinto localmente nas próximas gerações devido a consanguinidade.
Os próximos passos da pesquisa é continuar a busca por novos grupos e a implantação de corredores ecológicos, talvez com a recomposição da mata ciliar, ligando os fragmentos. O carisma de um dos primatas mais conhecidos do Brasil, o bugio com seu rugido, pode ajudar a salvar grande parte da biodiversidade que ainda existe nas áreas urbanas de Joinville.

Ouça aqui o ronco do bugio!