segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ambientalismo e luta de classes

   Este seria um bom título de um livro que, um dia quem sabe, vou escrever. Assim como todas as outras lutas políticas que moveram modificações sociais, o ambientalismo é a causa do momento. No passado, a luta contra a escravidão ou a opressão de reis e senhores trouxe novas ordens mundiais de uma forma dinâmica e revolucionária. Mas a essência das contradições não mudaram, a luta entre aqueles que oprimem e os que são oprimidos continua até nos dias de hoje, e há aqueles que observam esse fenômeno como o grande motor da história.
   Mas o que o ambientalismo tem a ver com isso? Bem, todas as contradições entre os que dominam e os que são dominados nos trouxeram até aqui, uma sociedade que permite a destruição de milhões de hectares de floresta na Amazônia ou Mata Atlântica para o lucro de poucos, uma sociedade que permite que centenas de pessoas sejam jogadas à miséria, sem ferramentas para construir sua própria libertação e acabam ocupando locais inadequados nas periferias, entre inúmeras outras facetas.
  Todos falam que a educação é a chave para modificar tais coisas, mas esquecem que o modelo de educação é ditado pelo próprio modelo sócio-econômico que vivemos. Ou seja, nosso modelo de educação ainda nos faz fechar os olhos a essas coisas e buscar o sucesso individual.
   Talvez seja por isso que muitos generalizam os problemas ambientais como algo apenas de mudança de comportamento como não jogar papel no chão, separar o lixo, não gastar água, etc. É lógico que essas coisas são importantes para uma sociedade sustentável, mas no meu entendimento é pouco. Apenas essas atitudes não vão parar a construção de um usina hidrelétrica como a de Belo Monte no Pará, que irá destruir uma das regiões mais importantes em termos de biodiversidade e para atender uma minoria, tendo épocas onde o funcionamento será paralisado pela seca periódica desta região. Aliás, seca que bateu record esse ano, talvez seja mais um aviso da natureza. Assim como em novembro de 2008, os nossos representantes montavam o teatro para a discussão do novo código florestal para o Estado. Estavam na última semana de discussão e Santa Catarina sofreu uma de suas piores enchentes da história.
   Agora a discussão de alterações no código floresta chegou a nível nacional e já vemos os ruralistas jogando pelo poder na Câmara. Dizem estar dispostos a negociar este posto se for apressada as modificações que lhe são interessantes. Não pensem que essa bancada de parlamentares ruralistas são ex-colonos ou agricultores familiares que querem lutar pelos seus iguais. Eles representam os grandes senhores do agro-negócio, que muitas vezes são estrangeiros.
  Nosso sistema é mestre em se transformar ou se envolver em um papel de presentes novo. Porém, sua essência não muda. A educação que não gera consciência sobre essa realidade e cria condições de luta, não transforma nada. A mídia cria novos rótulos para novos produtos com a marca "ecológico" e o "cidadão" acredita cegamente que está salvando o planeta, mal sabe ele que apenas contribui para a continuação do sistema.
   As perspectivas futuras em um sistema como o nosso são péssimas, apesar de se tentar desesperadamente manter o mesmo modelo dando outros nomes para as mesmas coisas, como economia verde, produtos ecológicos, selos de todos os tipos, a base continua a mesma: a exploração da natureza e do ser humano para o lucro individual.
  Acredito em desenvolvimento sustentável, mas não em um sistema capitalista. Talvez esteja no ambientalismo mais uma chance de mudanças profundas em nossa sociedade. Pois o sistema atual se mostra ineficiente no que se refere a justiça social e a preservação da natureza. Aliás, já dizia Marx,"o sistema capitalista trará a barbárie humana e a destruição da natureza". Se pelo menos tivessem ouvido o velhinho.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Animais silvestres apreendidos : qual a melhor solução?

Geochelone carbonaria
     Há algumas semanas atrás, um aluno meu encontrou um jabuti perambulando perto de sua casa. Depois de muita conversa, o aluno me entregou o bichinho, com o casco já meio comido pelos cães. Levei-o para casa, até para avaliar o estado de saúde do jabuti, um macho, que estava fraco, talvez não se alimentava há alguns dias.
    O jabuti (Geochelone carbonaria) é um réptil quelônio (ordem das tartarugas, cágados e jabutis) que é originalmente do Cerrado brasileiro, tendo sua distribuição em parte do norte, nordeste e centro-oeste do país.
   Minha intenção era de entregá-lo a Polícia Ambiental, mas durante o tempo de recuperação do jabuti, tive uma idéia: levá-lo ao CETAS/IBAMA em Florianópolis, até para conhecer o lugar. Pesquisando sobre o assunto, descobri que o CETAS/IBAMA na Bahia faz a soltura de centenas desses animais na natureza, já que esses animais não perdem muito de seus instintos selvagens. CETAS é a sigla para Centro de Triagem de Animais Silvestres e é gerenciado pelo IBAMA, tem a finalidade de receber animais silvestres que, por ventura, forem encontrados feridos ou em cativeiro de forma ilegal. Depois de recebido, o animal recebe os cuidados necessários para restabelecer a saúde e finalmente ganhar a liberdade ou ser encaminhado para um zoológico, por exemplo.
O CETAS em Florianópolis fica na entrada do Parque Florestal do Rio Vermelho, na Barra da Lagoa. Chegando lá, em dia de emenda de feriado, encontrei apenas um policial ambiental cuidando dos animais. Pude perceber que a estrutura para um Centro como aquele deixava a desejar. 
CETAS/IBAMA - Florianópolis
   Esse centro em Florianópolis é o único do Estado, ou seja, tem que atender a demanda de toda Santa Catarina. Em uma palavra: é uma vergonha! Mas infelizmente não é nenhuma novidade para o nosso Estado, a pior política em matéria de conservação ambiental. Daqui saíram coisas absurdas como a mudança do código florestal que altera as APP's para apenas 5 metros em rios menores que 30 metros de largura. Então é de se entender porque não se investe em ampliar os CETAS para outras regiões, porque não aumentam os efetivos da Polícia Ambienal onde o Pelotão de Joinville tem que cobrir todo norte de Santa Catarina.
   Pensava nestas coisas enquanto estava para entregar meu novo amigo ao polícial do CETAS. E para cúmulo, quando lhe perguntei sobre o possível encaminhamento do animal para seu habitat de origem, ele me disse que nunca soube ou viu alguma vez que um bicho daqueles havia sido solto. Seu destino é ficar no CETAS ou então ir para algum zoológico. Fiquei indignado, porque pra mim era como se eu tivesse prometido para ele (o jabuti) que ele voltaria para o lugar dele, mas infelizmente não foi o que aconteceu.
Hoje, quando o aluno me perguntou sobre o jabuti, eu disse que agora ele estava no lugar correto. Por dentro eu sabia que não era bem assim, mas não posso desencorajar que tomem essa atitude, pois pelo menos lá existem pessoas especializadas cuidando dele. Além do mais, o responsável legal pelos animais silvestres apreendidos é o IBAMA, qualquer pessoa que aprisionar, caçar, comercializar ou até perseguir animais silvestres pode pegar de 6 meses a 1 ano de prisão.
O que podemos fazer, falando como biólogo, é trabalhar para que os CETAS tenham programas mais eficientes de reabilitação de animais silvestres para a devolução à natureza. Esse sim é o melhor lugar para eles.





A gravação é do jabuti ainda lá em casa no último dia que passou lá antes de ser levado ao CETAS. Vou ligar para lá periodicamente para ver como está se saindo.