sábado, 11 de setembro de 2010

II Curso de Primatologia na Semana do Biólogo da UNIVILLE

   Nos dias 2 e 3 de setembro o Projeto Primatas do Nordeste Catarinense (PNC) promoveu o mini-curso "Métodos de Estudo de Campo com Primatas". O mini-curso foi realizado pela segunda vez na Semana do Biólogo da UNIVILLE, contando com três profissionais do PNC, o coordenador do projeto profº Sidnei da Silva Dornelles, a bióloga Andressa Lopes Roveda que pesquisa a dispersão de sementes pelo bugio-ruivo e o biólogo Guilherme Evaristo pesquisador voluntário (técnico de campo do PNC entre 2007 e 2009).
Foto: Rodrigo Galdino
   No primeiro dia, foi apresentada a teoria dos métodos utilizados no estudo de primatas. Porém, vale ressaltar que boa parte destes métodos podem ser aplicados a outros grupos da fauna. Em campo, os futuros biólogos puderam aplicar métodos para estudo de comportamento e levantamento da densidade populacional.
   O local da aula prática foi no Distrito Industrial Norte de Joinville, onde ainda existem grupos de bugio-ruivo (Alouatta clamitans) em fragmentos florestais, alguns em avançado estágio de regeneração.    
   Na prática os alunos puderam perceber a situação delicada em que se encontram esses primatas, isolados em fragmentos, sem poder dispersar e sofrendo os efeitos da redução do habitat.
Foto: Rodrigo Galdino
   A fragmentação dos habitats hoje é uma das principais preocupações para a conservação das espécies, esse isolamento dificulta o fluxo gênico, ou seja, diminui a variabilidade genética e aumenta as chances de problemas genéticos, podendo levar a extinção local da espécie. 
   Um dos objetivos do mini-curso é despertar nos graduandos o interesse pelo estudo de primatas. Os fragmentos do Distrito Industrial podem servir como laboratórios para pesquisa de campo para entender como a fragmentação atinge certos grupos da fauna.


Foto: Rodrigo Galdino
 Informações como estas podem dar subsídios para a criação de planos e ações que promovam a conservação da biodiversidade nestas regiões.
  

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Serra Dona Francisca - refúgio da biodiversidade

Serra Dona Francisca
Alguns estudos indicam que em Santa Catarina restam 15% de Mata Atlântica. Sendo que nosso estado era coberto integralmente por este Bioma. A Serra Dona Francisca, no norte catarinense, é um dos principais remanescentes do sul do país com florestas contínuas, raras nos dias de hoje. 
Por apresentar estas características e principalmente por abrigar as nascentes dos principais mananciais de Joinville, um trecho da Serra Dona Francisca foi transformado em Área de Proteção Ambiental (APA), através de decreto municipal nº 8.055 de 1997. Nesta Unidade de Conservação ainda é possível encontrar representantes da mastofauna como a anta (Tapyrus terrestris), onça-parda (Puma concolor), queixada (Tayassu pecari), etc. Aves ameaçadas de extinção como a jacutinga (Pipile jacutinga) e o papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis) já foram relatados em entrevistas com moradores da região. Porém, uma das mais famosas espécies da nossa fauna a onça-pintada (Panthera onca) não é relatada desde a década de 70, onde a última que se tem registro foi morta em 1975 na região do alto Cubatão. 
Um dos afluentes
do Rio Piraí
A simples criação de uma Unidade de Conservação (UC) não garante que de fato a biodiversidade seja conservada. Hoje, com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), toda UC deve apresentar um plano de manejo antes de sua implantação. A APA Serra Dona Francisca, criada em 97, agora começa a desenvolver seu plano de manejo, que vai determinar o quê pode ser feito na UC e como  planeja-se trabalhar para a efetiva conservação da APA. Mas, enfim, antes tarde do que nunca. Os modelos de UC no Brasil ainda sofrem do mal de só existirem no papel, enquanto a biodiversidade desses remanescente se esvaem como areia entre os dedos.
Pegadas de anta próximo à SC 301
É preciso que a sociedade se aproprie desta realidade, conheça as riquezas naturais das Unidades de Conservação e cobre a real conservação destes patrimônios.  

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Ararajubas na Vila Nova

Aratinga guarouba
A cerca de alguns dias atrás, fomos surpreendidos pelo aparecimento de um grupo de uma das mais belas aves  do Brasil, que aliás já simbolizou o nosso país - a Ararajuba (Aratinga guarouba).
Na verdade não era uma total surpresa para mim, pois lembro-me que quando estava no ensino médio (faz tempo) vi um grupo de 11 ararajubas voando sobre a escola onde eu estudava. Mesmo ainda sem ter conhecimento sobre o assunto, fiquei admirado e curioso para saber que espécie era aquela, diferente de tudo que já tinha visto, talvez era meu extinto de biólogo já se manifestando. Foi então que, naquela mesma época eu e meu irmão fomos atrás delas e encontramos. Mas aí o tempo passou e eu esqueci das ararajubas. 
No primeiro ano de faculdade, quando estávamos procurando um tema para desenvolver um projeto de pesquisa para a matéria de metodologia, eu já tinha os primatas como tema e sugeri a um amigo que não sabia com que trabalhar que procurássemos as ararajubas da Vila Nova e talvez seria um bom projetinho de PIBIC. Então começaram as descobertas: a ararajuba não é nativa da Mata Atlântica e sim da Amazônia, em uma pequena área de ocorrência. Mas como ela teria chegado até aqui?
Rhea americana
Na região rural do bairro Vila Nova, mais especificamente na Estrada Comprida, uma pequena propriedade rural chama a atenção pela presença de duas emas (Rhea americana) e vários outros pássaros silvestres. Todos estão soltos. Descobrimos que o ponto principal de parada das ararajubas era nesta propriedade, a qual decidimos "invadir" no bom sentido para saber mais sobre elas. Depois de termos levado um corridão das emas conseguimos falar com a proprietária do sítio, muito simpática aliás, pronta para falar sobre o assunto com o brilho nos olhos enquanto explicava sobre as suas aves preferidas, as ararajubas.
Seu marido, já falecido, recebia algumas aves apreendidas pela Polícia Ambiental e ele, com muita paciência, tratava das aves e depois às deixava soltas para se sentirem melhor. A maioria das aves nunca saíram da propriedade, já as ararajubas seguiram seus instintos. Dois casais trazidos inicialmente, aprenderam a se alimentar do açaí da palmeira-juçara (Euterpe edulis), lembrando que em sua área de ocorrência original sua alimentação inclui o açaí do norte (Euterpe oleracea). Também começaram a se reproduzir livremente, nidificando da mesma forma como se fossem selvagens.
Com essa experiência podemos ver que é possível sim recuperar animais, mesmo os que nasceram em cativeiro. O proprietário do sítio sem conhecimento nenhum (acadêmico) conseguiu provar isso. Porém, é um processo que demanda tempo.
Ocorrência original da Ararajuba
Sabemos sobre toda a questão de que trata-se de uma espécie exótica introduzida, mas são necessários estudos para saber se ela interfere de forma negativa no ecossistema. De qualquer forma, a crueldade contra esses animais, assim como com todos os outros, não é diferente. Pessoas com a intenção de "ver de perto" atiram contra as ararajubas matando várias com um só tiro. Foi relatado que só um morador da região matou três com um único tiro. Outras morreram por ter nidificado em um coqueiro jerivá (Syagrus romanzoffiana) e um raio o atingiu. Ou seja, a uns três anos atrás sobraram apenas três ararajubas. Mas pelo encontro de agora, o numero aumentou novamente.
Fica aí a dica para os biólogos de plantão que queiram saber mais sobre esse caso interessante de adaptação de uma espécie rara da fauna brasileira. 






FRISCH, J. D ; FRISCH. Aves brasileiras e plantas que as
atraem. 3 ed. São Paulo: Dalgas Ecoltec – Ecologia Técnica Ltda,
2005.


quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Plantas nativas vs exóticas

  Estudos de Biologia da Conservação consideram a introdução de espécies exóticas como a segunda maior causa de extinção da diversidade biológica mundial. Ficando atrás apenas da destruição dos habitats. O problema ocorre quando animais, plantas e microorganismos de um determinado lugar são levados para outro onde não há predadores para limitar sua população ou então, como no caso de algumas plantas, alteram os ciclos da cadeia alimentar, polinização, etc.
P. nuda, nativa da Mata Atlântica
  Este ano, a Escola Municipal Profª Karin Barkemeyer desenvolve o projeto "Comunidade Educativa: do sonho a prática, por um planeta sustentável", tendo como objetivo principal  demonstrar que é possível manter a flora nativa da região no ambiente urbano, preservando a biodiversidade e promovendo a sustentabilidade. 
  Essa preocupação com o ambiente urbano levando em conta a biodiversidade local é um tanto quanto recente. Imagine que programas de arborização urbana mal saíram do papel e menos ainda incluem a utilização de plantas nativas de cada região. Muito disso, fora a falta de vontade, deve-se a falta de pesquisas de plantas nativas próprias para uso urbano. Lembrando que quando pensa-se em nativa está se referindo aquela determinada região. Por exemplo, o tão famoso pau-brasil ( Caesalpinea echinata) é nativo do Brasil, mas não do sul do país.
T. glaucopis
  A FUNDEMA (Fundação do Meio Ambiente de Joinville) lançou em 2008 a Portaria nº 007/08 que dispõe sobre as espécies nativas brasileiras próprias para uso em arborização urbana, o que já é um avanço. Porém, se pesquisarmos na imensa área de Mata Atlântica que ainda temos preservada em Joinville podemos encontrar muitas mais.
Euglossa sp
 Um exemplo de planta nativa de Joinville própria para o uso urbano é a Psychotria nuda (cravo-de-negro) que tem como principais polinizadores as abelhas nativas do gênero Euglossa e o beija-flor-de-fronte-azul (Thalurania glaucopis). Espécies que estão desaparecendo da área urbana por serem dependentes desta planta. A P. nuda ainda atrai a fauna com seus frutos sendo uma das plantas mais procuradas no sub-bosque da floresta. Entre os que apresentam preferência pelos seus frutos são o araçari-poca (Selenidera maculirostris), um parente do tucano e a juruva (Baryphthengus ruficapillus).
S. maculirostris
  Com uma simples ação de plantar uma árvore nativa estamos contribuindo para que estas e muitas outras espécies não desapareçam. Vivemos em um país com a maior biodiversidade do mundo, não faz sentido trocar essa riqueza pelo cinza das cidades.
B. ruficapillus