terça-feira, 19 de abril de 2011

As abelhas nativas e sua importância ecológica

Dona Ilse Pabst
Através do Programa de Turismo Pedagógico Viva Ciranda, promovido pela Fundação Turística de Joinville, muitas propriedades rurais abriram suas portas para ensinar um pouco do conhecimento adquirido através da produção rural sustentável, um tipo de produção que utiliza a natureza de forma racional.
Uma dessas propriedades é o Apiário Pfau, onde a Dona Ilse Pabst e sua família extraem o mel das abelhas africanizadas e além disso criam abelhas nativas que, diferente das africanizadas, não possuem ferrão. As colméias de abelhas nativas são apresentadas aos visitantes e Dona Ilse utiliza a oportunidade para repartir o vasto conhecimento que tem sobre o assunto, obtido com a prática e o convívio com esses insetos. 
Abelhas Jataí
Os ensinamentos de Dona Ilse aos visitantes tem o objetivo de conscientizar as pessoas sobre a importância das abelhas nativas para o ecossistema. Essas abelhas tem uma relação de mutualismo com a flora nativa, ou seja, algumas plantas nativas produzem flores que só as abelhas nativas conseguem polinizar, se as abelhas nativas tornam-se raras, algumas plantas deixam de produzir frutos e sementes e não completam sua reprodução.
Algumas espécies encontradas no Apiário Pfau podem sequer lembrar uma abelha como conhecemos (africanizada) é o caso da Jataí, que mede aproximadamente 5 milímetros e tem uma cor dourada. Outras podem ser maiores como as Mandaçaias e Tujuba com corpo parecido com as abelhas africanizadas. Outras são solitárias e de cores metálicas como as do 
gênero Euglossa (que já tratei neste blog, ver em Planta nativas vs Exóticas) .
Abelhas Tujuba
Uma visita à propriedades como esta demonstra que temos muito a aprender com quem conhece e vive integrado ao ambiente natural. Precisamos conhecer e preservar essas incríveis criaturas. Não faz sentido desprezarmos toda essa biodiversidade e a riqueza que ela representa.

Abelhas Mandaçaia




terça-feira, 5 de abril de 2011

Situação das Unidades de Conservação em Joinville

saíra-de-sete-cores
  No curso de pós-graduação de gestão ambiental que estou fazendo, temos uma disciplina que é a gestão de unidades de conservação. Nesta etapa, devemos ir a campo para conhecer de perto a realidade dessas áreas, tidas no papel, como unidades de conservação.
  O grande problema que se percebe, sem muito esforço, é a falta de interesse por parte do setor governamental em gerir esses espaços. Sem uma gestão adequada e a fiscalização sobre essa gestão, a unidade de conservação pode não atingir seus objetivos de real conservação da diversidade biológica.
obras inacabadas
  Na região central de Joinville, temos um exemplo claro disso. Temos uma unidade de conservação criada por decreto, em meados de 2003, enquadrada na categoria de uso sustentável, ou seja, permite que tenha algum grau de utilização (desde que sustentável). A Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) do Morro do Boa Vista, realmente tem um potencial extremamente relevante, tanto para a manutenção de uma certa biodiversidade nos seus 390 hectares, quanto para a melhoria da qualidade ambiental das regiões de entorno.
O plano de manejo desta unidade (requisito obrigatório para qualquer unidade de conservação) ainda está em vias de aprovação, sendo que por lei, após a criação da unidade os seus gestores têm 5 anos para a implantação desse plano que dita as regras para utilização da unidade de conservação.
Recursos financeiros vieram para a aplicação em nossas unidade de conservação, inclusive na ARIE do Morro do Boa Vista, mas agora as obras estão paradas já há algum tempo e o material utilizado no início das obras se perde levado pelas águas das chuvas. Problemas de licitação, segundo informações. 
Isso não se aplica só em Joinville, é uma realidade nacional, infelizmente. Acredito que isso acontece porque a sociedade ainda não tem consciência da importância e da função das unidades de conservação. Quando pediram parques como área de lazer, pediam parques com campinho de futebol, balanço, gangorra....
placa do consórcio financiador quebrada

É fácil ficar indignado quando se trabalha com este tema, mas e a grande população que mal sabe o que é uma unidade de conservação? Primeiro é preciso mudar essa realidade...


segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Como aumentar a biodiversidade em áreas urbanas?

 A maior parte da população humana vive em ambientes urbanos sendo consenso entre todos os setores da sociedade que esse ambiente modificado permanecerá existindo com a maioria de suas características.
Algumas dessas características são extremamente prejudiciais para o equilíbrio dos ecossistemas naturais que mantém o funcionamento do próprio ecossistema urbano. Afinal, todos elementos que mantem o ecossistema urbano em atividade provém dos ecossistemas naturais como a água, o oxigênio, os combustíveis, alimentos, etc. E o que devolvemos? Poluição, destruição dos habitats, extinção de espécies...
Essas características prejudiciais podem ser superadas, algumas de maneira simples outras nem tanto.
Helicônia atrai o beija-flor-grande-do mato
Uma dessas formas simples de melhorar as condições ambientais dentro dos ecossistemas urbanos é a arborização urbana. Utilizando espécies de plantas nativas conseguimos minimizar um dos problemas mais frequentes nas áreas urbanizadas: a diminuição da biodiversidade. A regra é quanto maior for a biodiversidade maior é a capacidade de recuperação dos ecossistemas naturais.
Além do benefício para os ecossistemas, a beleza de encontrar espécies, muitas vezes, raras em um ambiente urbano vale todo esforço.
Em Joinville temos condições de melhorar e muito nosso ambiente. Se todos plantassem espécies nativas no fundo de seu terreno, por exemplo, poderíamos criar um pequeno "corredor" para aves, insetos e até pequenos mamíferos...em minha casa já fiz e o vizinho do lado também. Com isso criamos uma ilha de vegetação nativa que atrai pássaros de todos os tipos e algumas espécies endêmicas da Mata Atlântica.
beija-flor-grande-do-mato (Ramphodon naevius)
Com uma ação simples podemos sim melhorar nosso ambiente e aumentar a biodiversidade no meio urbano.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Jurapê - O Desafio da Montanha

Jurapê, sempre encoberto por nuvens
 No dia 5 de junho de 1886, uma equipe de sete pessoas, lideradas por Johann Paul Schmalz (suíço), subia pela primeira vez a maior montanha de Joinville . A odisséia durou três dias, gerando um relato emocionante de Johann que era um amante da natureza.
Hoje, os que sobem as trilhas que levam ao Jurapê, também sentem um pouco da emoção que Johann sentiu. Porém, algumas marcas deixadas por pessoas mal educadas as vezes tiram um pouco dessa emoção. 
Aqueles que sobem a trilha, tem a oportunidade de encontrar exemplares da flora e fauna típicos da Mata Atlântica, isso porque a declividade das montanhas impediram a retirada de madeira de lei em muitos trechos, o que possibilita ao visitante encontrar espécies raras como a canela-imbuia (Ocotea porosa), o cedro (Cedrela fissilis), entre outras. O difícil acesso também protegeu alguns animais.
Rio Cebolana
Na minha última andança pelas trilhas tive a oportunidade de encontrar os simpáticos quatis, os sinambús espécie de lagarto parecido com iguanas e ouvir o canto de tucanos e arapongas enquanto caminhava pela trilha.
A trilha em si não é longa, tem pouco mais de 5 quilômetros, mas necessita preparo físico por ser bastante íngreme (coisa que eu não tenho muito!). Ao percorrer a trilha pode-se encontrar dois riachos para encher o cantil, o primeiro forma uma pequena cascata e o segundo é o rio Cebolana, já bem próximo ao cume. Neste é possível até tomar banho, isto se aguentar a água gelada. 
Esta aventura é indicada no inverno, pois não há risco de tempestades.
Sinambú (Enyalius iheringii)
Esta região, com um potencial enorme para o ecoturismo e turismo científico ainda precisa de uns ajustes. Acredito que deveria existir uma estrutura na base da trilha que não permitisse a entrada de visitantes sem antes receber recomendações, afim de evitar a destruição do local. Fica aí uma dica para os elaboradores do Plano de Manejo da APA Serra Dona Francisca. 
Para aqueles que pretendem andar pelas trilhas do Jurapê, pense na natureza em primeiro lugar: forme grupos com no máximo 10 pessoas, muita gente destrói a trilha e a torna cada vez mais larga; a região é uma Unidade de Conservação portanto não pode ter perturbação, tem gente que pensa que está em uma festa rave; não corte árvores ou galhos para fazer fogueiras, no topo da montanha há espécies que só existem lá em cima, como as orquídeas do gênero Sophronites e por último leve seu lixo pra casa, por favor tenha educação.
Visão sul de cima do Jurapê

Vamos desfrutar da natureza com consciência!









Para ler o relato de Johann Paul Schmalz acesse o link: http://aerhpg.vilabol.uol.com.br/ajm/johannpaulschmalz.htm 


Fonte: Salamandra - Montanhismo e Escalada
http://www.asalamandra.com.br/jurape.php

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Novo Código Florestal - Ameaça à Conservação

Rio Piraí, Joinville/SC
Olhe bem para a paisagem na foto ao lado. A paisagem na foto está sob risco de desaparecer. Está em discussão na Câmara dos Deputados a alteração do Código Florestal. A modificação é proposta pelo então Deputado Federal Aldo Rebelo (PCdoB).
No seu parecer, de mais de 260 páginas, o relator demonstra toda sua burocracia típica do Stalinismo, de onde surgiu seu partido. Por outro lado, citações interessantes como a de John Foster em A Ecologia de Marx, onde se explica a lógica de destruição da natureza através do desenvolvimento do capitalismo. 
Porém, toda teoria se perde observando os fatos: como alguém que diz entender que a destruição da natureza se dá por uma lógica capitalista, se apóia em uma lei que aumenta essa destruição para atender essa mesma lógica? Equivoco? Duvido!
Tudo estava orquestrado mesmo antes da candidatura de Dilma para a presidência. O PMDB, partido tradicionalmente ruralista, já sabia muito bem o que queria quando apoiaram a candidatura, agora eles cobram a fatura de suas almas. Aliás, como já foi dito em um post anterior.
Se Aldo Rebelo, que se diz um comunista, quer eqüidade para o setor agropecuário e que o pequeno produtor tenha mais oportunidades, por que não lutar contra os latifúndios, terras de grileiros e grandes áreas na mão de políticos influentes? 
Os novos limites mínimos para as Áreas de Preservação Permanente (APP) passariam de 30 metros nas margens dos rios para 15 metros se este projeto de lei for aprovado. Mesmo com todos os discursos de redução de emissões de CO², é uma coisa óbvia que a diminuição de APP´s vai interferir na concentração de carbono no ar, porque terão menos árvores para absorver esse carbono. E o governo, que é mestre em fazer de conta, lança metas de redução de CO² para o mundo aplaudir. Talvez seja mais uma lei que não pegue, né Srº Presidente?
Todos os anos que trabalhei com Educação Ambiental, como professor ou não, fizemos questão de falar sobre as Matas Ciliares, inclusive com a Escola Municipal Bernardo Tank recuperamos um área de Mata Ciliar com os alunos. Imagino como se sentirão eles quando souberem que o que eles fizeram pode não valer de nada.
Alunos da Escola Bernardo Tank
em atividade de plantio na Mata Ciliar
A verdade é que os que cobram a fatura pós eleições já se organizaram e talvez a matéria proposta seja votada na semana que vem. Cabe agora a nós, impedir que se faça a vontade dos poderosos do agro-negócio. Se há algo que precisa ser mudado, que seja antes discutido de forma ampla e que todos os setores participem.

Abaixo estão alguns emails de Deputados Federais, mande seu recado e ajude a impedir a destruição do que restou de nossas florestas:

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

2ª Conferência Municipal do Meio Ambiente - Análise

Grupo Fauna e Flora
Nos dias 26 e 27 de novembro, a Fundação Municipal do Meio Ambiente de Joinville (FUNDEMA) promoveu a 2ª Conferência Municipal do Meio Ambiente, que ainda possibilitou a participação paralela das crianças através da Conferência Mirim.
Os objetivos da Conferência eram de elaborar propostas para três eixos temáticos: consumo consciente, preservação e conservação da fauna e flora e a gestão e manutenção de recursos hídricos. Para as crianças a Conferência tem um papel educacional e de incentivar a participação social nas decisão que afetam o coletivo. Sendo este um dos grandes desafios, pois atualmente a participação social dos adultos é deficiente. É necessário preparar as futuras gerações para a participação nos processos de decisões. Para isso, convidei os alunos Douglas e Murilo da Escola Municipal Karin Barkemeyer, onde sou professor.
A Conferência dos "adultos" iniciou com a palestra "Biodiversidade é a nossa vida", já que o grande mote das discussões mundiais este ano deveriam ser sobre este tema.
No segundo dia de evento ocorreu as oficinas de trabalho divididas em grupos conforme o eixo temático de sua preferência. As discussões foram satisfatórias, levando em conta o pouco tempo e uma certa falta de objetividade em alguns casos, vou explicar, as questões norteadoras perguntavam: o que precisa ser feito no município e o que precisava ser feito no seu bairro, porém não tínhamos representantes de cada bairro. Uma sugestão seria promover um evento nos moldes das conferências de bacias hidrográficas, tendo uma última central reunindo representantes de todas as bacias hidrográficas de Joinville.
As propostas redigidas ao final do evento por cada grupo de trabalho foram discutidas com todos os participantes, sendo modificado ou incluído algum item quando se julgou necessário e aprovado pelo coletivo.  Agora é preciso cobrar para que essas propostas sejam efetivadas. Já participei de vários eventos, de onde saíram propostas importantes, aprovadas pelo coletivo, mas que caíram no "esquecimento" dando a impressão que o evento era apenas propaganda. Espero que desta vez seja pra valer.
Ao final os alunos da Escola Municipal Zulma do Rosário Miranda apresentaram um vídeo sobre suas experiências com a Educação Ambiental. Com a participação dos alunos, fiquei com uma certa esperança de que essa próxima geração tem muito mais ferramentas para fazer mais do que nós fizemos e tive orgulho pelos meus alunos, os outros que, não eram meus, mas mostraram que estão dispostos a fazer diferente e por ter dado minha modesta contribuição para isso.
Conferência Mirim.
De frente Douglas e Murilo
da Escola Karin Barkemeyer

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Ambientalismo e luta de classes

   Este seria um bom título de um livro que, um dia quem sabe, vou escrever. Assim como todas as outras lutas políticas que moveram modificações sociais, o ambientalismo é a causa do momento. No passado, a luta contra a escravidão ou a opressão de reis e senhores trouxe novas ordens mundiais de uma forma dinâmica e revolucionária. Mas a essência das contradições não mudaram, a luta entre aqueles que oprimem e os que são oprimidos continua até nos dias de hoje, e há aqueles que observam esse fenômeno como o grande motor da história.
   Mas o que o ambientalismo tem a ver com isso? Bem, todas as contradições entre os que dominam e os que são dominados nos trouxeram até aqui, uma sociedade que permite a destruição de milhões de hectares de floresta na Amazônia ou Mata Atlântica para o lucro de poucos, uma sociedade que permite que centenas de pessoas sejam jogadas à miséria, sem ferramentas para construir sua própria libertação e acabam ocupando locais inadequados nas periferias, entre inúmeras outras facetas.
  Todos falam que a educação é a chave para modificar tais coisas, mas esquecem que o modelo de educação é ditado pelo próprio modelo sócio-econômico que vivemos. Ou seja, nosso modelo de educação ainda nos faz fechar os olhos a essas coisas e buscar o sucesso individual.
   Talvez seja por isso que muitos generalizam os problemas ambientais como algo apenas de mudança de comportamento como não jogar papel no chão, separar o lixo, não gastar água, etc. É lógico que essas coisas são importantes para uma sociedade sustentável, mas no meu entendimento é pouco. Apenas essas atitudes não vão parar a construção de um usina hidrelétrica como a de Belo Monte no Pará, que irá destruir uma das regiões mais importantes em termos de biodiversidade e para atender uma minoria, tendo épocas onde o funcionamento será paralisado pela seca periódica desta região. Aliás, seca que bateu record esse ano, talvez seja mais um aviso da natureza. Assim como em novembro de 2008, os nossos representantes montavam o teatro para a discussão do novo código florestal para o Estado. Estavam na última semana de discussão e Santa Catarina sofreu uma de suas piores enchentes da história.
   Agora a discussão de alterações no código floresta chegou a nível nacional e já vemos os ruralistas jogando pelo poder na Câmara. Dizem estar dispostos a negociar este posto se for apressada as modificações que lhe são interessantes. Não pensem que essa bancada de parlamentares ruralistas são ex-colonos ou agricultores familiares que querem lutar pelos seus iguais. Eles representam os grandes senhores do agro-negócio, que muitas vezes são estrangeiros.
  Nosso sistema é mestre em se transformar ou se envolver em um papel de presentes novo. Porém, sua essência não muda. A educação que não gera consciência sobre essa realidade e cria condições de luta, não transforma nada. A mídia cria novos rótulos para novos produtos com a marca "ecológico" e o "cidadão" acredita cegamente que está salvando o planeta, mal sabe ele que apenas contribui para a continuação do sistema.
   As perspectivas futuras em um sistema como o nosso são péssimas, apesar de se tentar desesperadamente manter o mesmo modelo dando outros nomes para as mesmas coisas, como economia verde, produtos ecológicos, selos de todos os tipos, a base continua a mesma: a exploração da natureza e do ser humano para o lucro individual.
  Acredito em desenvolvimento sustentável, mas não em um sistema capitalista. Talvez esteja no ambientalismo mais uma chance de mudanças profundas em nossa sociedade. Pois o sistema atual se mostra ineficiente no que se refere a justiça social e a preservação da natureza. Aliás, já dizia Marx,"o sistema capitalista trará a barbárie humana e a destruição da natureza". Se pelo menos tivessem ouvido o velhinho.